#03 Talvez você não queira viver os seus sonhos tanto assim
E isso não é discurso motivacional de coach
Fui contratada por uma agência como freela atendendo o C6 bank. Eles estavam organizando um grande evento na área, e o meu papel era descer alguns briefings pra diversos influenciadores.
Tudo muito operacional sem grandes emoções.
Exceto por uma questão.
Eu tinha acesso a uma planilha com os valores que todos os influenciadores cobraram, desde a oferta inicial até a proposta final.
Nomes como Patrícia Poeta, Gabriela Prioli, Carvalhando, Isabela Matte…
Nessa hora eu quis chorar.
Mesmo sendo o freela que melhor me pagou até hoje, existia um abismo entre o valor do meu trabalho e o valor de 1 post no feed e sequência de 3 stories + presença no evento.
Juro, coisa de 20, 50, 100 e até 200 mil reais dependendo do tamanho, nicho e influência.
1 hora no evento com equipe interna criando todo o seu conteúdo. 3 stories. 1 reels no feed.
Nós que trabalhamos com publicidade, especialmente com influenciadores, já estamos acostumados com valores exorbitantes. Mas isso nunca deixa de me chocar.
Não posso generalizar: existe gente boa demais criando conteúdo bom demais.
Nomes como Mari Krüger, Letícia Ribeiro, Tiago (tira do papel), Beatriz Guarezi, da Bits to Brands, entre tantos outros, entregam um trabalho de extrema excelência na hora de criar uma publi.
A gente sente o cuidado, responsabilidade e dedicação. E na real, como alguém que também já fez diversas publicidades no LinkedIn, esse é o segredo de uma parceria de marca inteligente e estratégica:
Inserir a propaganda, de forma sutil, em um conteúdo que facilmente poderia ser postado no seu feed mesmo se determinada marca não estivesse patrocinando.
No entanto, infelizmente essa é a exceção, não a regra.
O que mais tem me impactado nesses quase 5 anos trabalhando em agências, é o quanto a maior parte do trabalho é feita por elas, enquanto os influenciadores não pensam, executam mal e ainda podem ser difíceis de trabalhar.
Não existe senso crítico. Criatividade. Autenticidade.
São quase todos máquinas, lendo briefings criados por profissionais cansados que gostariam de estar vivendo o outro lado da moeda. Eu, pelo menos, gostaria.
Foi esse sentimento que surgiu olhando para aqueles valores: “Como eu gostaria de estar do lado de lá, sendo brifada".
Até que uma vozinha, que vou chamar aqui de consciência, praticamente gritou:
— Gostaria mesmo??
E eu, malcriada, respondi:
— Claro que sim! Trabalho com isso há tanto tempo, sei como fazer e, comparado a alguns nomes, tenho muito mais bagagem e conteúdo.
— Então, por que não está fazendo? Por que se esconde na bolha do LinkedIn onde você é tão querida e admirada, mas praticamente invisível para as grandes marcas? Por que não cria uma rotina de postagem pro Instagram e começa a soltar a voz no TikTok?
Diversas desculpas começaram a surgir. Mas, no fundo, a voz que ficou, foi: “Talvez você não queira viver esse sonho tanto assim".
Porque, na real, essas pessoas estão fazendo. Se expondo. Algumas, sem um pingo de responsabilidade. Outras, buscando o seu lugar ao sol. Mas estão lá, dia após dia. Story atrás de story.
Comecei a me questionar: “No momento, eu realmente tenho peito pra bancar essa escolha?". E a resposta foi um longo e agudo não.
É fácil desejar a rotina do outro, o dinheiro, a família, os prêmios e reconhecimentos. Difícil é sentar a bunda e fazer. Para mim, pelo menos.
No entanto, comecei a entender que alguns sonhos mudam. Outros nem são meus.
Que às vezes o nosso corpo e a nossa mente precisam preservar energia. E o meu mínimo será o meu máximo.
Outras vezes, o sonho pode até morar aí dentro, mas o caminho para chegar até ele ser totalmente o oposto do que você previu.
Por exemplo: o meu maior sonho é ser escritora (de livros, além de newsletter), e palestrante. Viajar o Brasil (e o mundo) inteiro contando a minha história e inspirando outras pessoas.
Eu sempre imaginei que conquistaria isso pelo meu posicionamento no LinkedIn, falando sobre conteúdo, marca pessoal e afins. Até entender que essa nem é mais minha praia.
Que eu gosto de falar sobre autoconhecimento e espiritualidade. Passaria horas falando sobre isso. O meu olho brilha.
E tá sendo um baita processo de olhar pra dentro e entender (e aceitar) isso.
Entender que, embora eu tenha construído uma carreira irretocável e tendo atingido espaços e lugares inimagináveis para a Marília de 5 anos atrás, eu não sou mais ela. Não quero mais as mesmas coisas nem tenho os mesmos sonhos que ela.
E tá tudo bem se perder no caminho. E surtar, mudar de rota, lançar um novo projeto, experimentar, falhar. Até se encontrar de novo pra depois se perder. Isso é viver. Viver de verdade.
E eu sei que, quanto mais eu caminhar, mais o caminho vai se abrir. E pode ser que eu escreva livros e faça palestras sobre um novo assunto que eu descobri amar.
Que não tenha nada a ver com o LinkedIn.
E também pode ser que, quando encontrar esse caminho, naturalmente eu comece a falar sobre ele no TikTok e no Instagram. E seja encontrada por marcas que se identificam com o meu jeito de pensar.
E viva do lado de "lá".
Mas esse nem é mais o objetivo. O objetivo é viver, experimentar, fazer. Por mim, não pelo outro. Não pelo dinheiro, nem status, nem prestígio.
Então, sim, talvez eu não queira viver os meus sonhos tanto assim. Não ao menos sem descobrir quais são. Não ao menos sem ter a certeza de que são verdadeiramente meus.
O que tem brotado no meu campo? 🌿
Qual foi a última vez que você fez algo puramente por querer fazer? Sem a influência ou opinião de ninguém? Sem pensar no que você poderia ganhar com isso? Apenas o ato de viver e experimentar?
Indicações Artesanais ✍🏽
📚 Gente Ansiosa: Cada personagem carrega uma vida de reclamações, mágoas, segredos e paixões prestes a transbordar. Ninguém é exatamente o que parece. E todos ― inclusive o ladrão ― estão desesperados por algum tipo de resgate. Daqueles livros que você devora, tem várias crises de identidade e depois quer mais.
🎬 Divaldo Franco, mensageiro da paz: a doutrina espírita sempre me intrigou muito. Quanto mais estudo, mais entendo o amor e a entrega ao próximo como a única forma de transcender. Filme incrível que retrata propósito, missão de alma, vocação e entrega.
📹 Acessando a intuição: um papo íntimo, sensível e necessário sobre a importância de silenciar tudo o que está fora para começar a acessar o que está dentro. De um dos meus podcasts preferidos!
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Que lindo, Marília! Vivo o mesmo que você na prática: o que eu queria lá atrás já não é o que quero hoje - e tudo bem. A gente precisa acolher nossos novos sonhos e sempre nos ouvir. Isso é fluir ❤️ foi lindo encontrar seu texto! Obrigada!
Amei 💙